quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Deixo de me sentir, começo a sentir



 
 

 
 

Deixo de sentir a corda apertada,
Deixo de resistir ao poder da adrenalina,
Volto a mover-me, lentamente, convicto
Da direcção que o meu corpo toma, rodo sobre mim próprio,
A cabeça olha por cima do ombro relaxado. Este é o momento,
Este é o ponto de viragem em que volto a viver,
Porque te vejo de novo, claramente.
A dúvida da miragem
Desaparece, serenamente. A decisão agita-se como notas de música,
Como as teclas do piano de Nyman são o meio pelo qual
Os seus dedos produzem felicidade, no ar e na distância entre o som
O ouvido e o coração. Essa é a distância entre coisa nenhuma e o amor
Que nunca termina. O ar cúmplice de um ser, de dois seres, de muitos seres.
Deixo de me sentir, começo a sentir.
Um tempo longínquo persiste e aumenta, todos os dias, todas as horas,
Minutos e segundos desde um lugar que ocupa um espaço de memória.
E nesse espaço, também rodei sobre mim próprio
Em direcção aos teus olhos que cintilavam a dávida das tuas mãos, limpas, suaves,
Cuidadas e Cuidadosas.
Um corte envolveu-me numa reflexão inútil e fraudulenta, convencido pela sujidade
Que trazia conservada de outros apertares de mão.
Por fim o poder da história conduz-me ao presente
Em que a voz é suficiente, em que as mãos se tocam naturalmente, os corpos se unem
Comprometidos com o esforço de amar
Só porque apetece, só porque vai apetecer sempre,
Consumir o vazio em grandes nadas,
Os dois continuam, pensando e sentindo diferente,
Antes do fim por anunciar
Por detrás de uma esquina.
E cada esquina pode ser a tal, que nos vai deter,
E fechar os olhos
De vez.
A esquina permanecerá
E não deterá mais ninguém.
E nós fomos nós,
E eu não seria eu sem ti. Eu seria outro eu.
Filipe R. S. Cunha,
Vila Nova de Gaia,
29 de Agosto de 2013.