segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um beijo na escuridão

 
 
 
 
 
 
Caminhavamos juntos. Seguiamos conversando. Conversas confusas e quase banais. Enquanto caminhavamos sentia-te toda dentro do meu corpo sem sequer te tocar. Sem te olhar via-te nua. Mal te conhecia mas sentia-te como parte escondida de mim durante toda a minha vida.
 
Sem te apalpar sentia os teus seios nas minhas mãos. A pele macia das minhas mãos de 18 anos na pele ainda mais suave e sensível dos teus seios. Mesmo a um país de distância ainda hoje seria capaz de sentir o teu cheiro e o teu perfume. Misturados o teu cheiro e o teu perfume até á eternidade. Mesmo sem te beijar bebia da tua boca devagar e com gosto.
 
Por isso pegamos na garrafa de Martini ainda meio cheia e deixamos-la rebolar estridentemente pela rua a baixo. - Cuidado que aí vai garrafa. A garrafa solitária que estava a mais. Inserida no meio de nós como um estorvo doce e desinibido. Um estorvo bom que já não faz falta. E atiramos-nos para o chão soltando gargalhadas adolescentes.
É caso para dizer que foi uma verdadeira loucura. Uma insanidade comum dos nossos 18 anos. 
 
Mais tarde deitamos-nos ainda ébrios. Juntos escutava-mos o silêncio do universo. Interpretavamos o silêncio com astucia e medo. Estávamos juntos? Não sei. Só sei que estávamos na mesma cama cada um a pensar e a sentir por si.Eu sentia o meu coração bater forte e cheio de vontade de te tocar. lembro-me que tinha a cabeça encostada no teu peito igualmente aflito. Mas os nossos corações não se tocaram esborrachados contra a caixa torácica. Deitados, eramos tão próximos mas tão distantes. Longe um do outro e longe do mundo esquecido hà longas horas. A escuridão era um alívio curto mas intenso o suficiente para valer a pena. Mas esse ruído entre nós era tão longínquo que não nos voltamos a ver Linda Martini.


Juan Perez Gonzalez

Vila Nova de Gaia,

15 de Outubro de 2012.

 

1 comentário:

  1. Juan Perez Gonzalez!, simplemente el mejorr texto suyo que leí, desde el primer párrafo me sentí atrapado por la narrativa, quizas identificado cuando tenía 18 años, quizas un dejavu. El idioma no fue una barrera, en 4 parrafos consigió transportarme a ese lugar, pude comprender, y eso es un don del escritor, es un don suyo, siga escribiendo y transmitiendo eso!!, Epero la proximaa publicacion!!

    Fernando Caballero



    ResponderEliminar