terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Politicamente incorrecto


 

 
Uma longa lança espetada nas entranhas do povo.

Mais uma vez regressa a saudade que caracteriza o meu país.

Serás tu capaz ainda, mais uma vez

De dar a mão,  à próxima vitima

Banhada em sangue?


Vais continuar a sonhar, agora que

O teu suor sabe a lagrimas e o

Teu esforço compadece-se em pagar as

Contas dos banqueiros.


A rosa murchou,

Ou será o punho fechado do socialismo

Vertido  à corrupção democrática?

Ou será uma seta invertida, porque aquela virada  à direita

Teima em respirar, um ultimo folego,

Enquanto a aguardente velha repousa apodrecendo nas garrafas,

Tombadas, atabalhoadas nos armários.


Será que ao abrir o armário do teu quarto,

Durante a próxima avaliação da troika,

Vou encontrar mais um esqueleto putrefacto,

Do tempo do quero posso e mando?


Respira, não respira, pode respirar,

Nada justifica a morte em vida. O Sol brilha

Mas não é para todos, enquanto esses pontos

Cinzentos prevalecerem democraticamente

Sobre o céu que se quer azul.


Por isso luta, povo luta, larga

A armadura e o escudo do quotidiano, e ergue-te

Orgulhosamente, sem que sejas um mártir,

Ou uma vitima, em que outros são exímios, e vem

Renascer crucificando a hipocrisia.

 

 

Juan Pérez Gonzalez, 26 de Fevereiro de 2013, Vila Nova de Gaia

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Vampiros


 

 



Vampiros empalidecidos, dormem,


feridos pela luz, perdidos na cidade.

Em breve, dentes afiados em punho,

Furando pescoços na intimidade

Duma abundância de sangue,

Saciando a fome e a sede, pintando

Telas humanas de vermelho vivo
 
por onde quer que passem.

 

A laceração da artéria, faz jorrar o suco

Que empalidece o corpo moribundo,

Transfusão digerida ainda na boca, com um apetite

Desesperado de quem necessita do sangue alheio.

 

Sangue fresco, ar quente, sono profundo,

Corpos amontoados, no descampado

Refugio dos emigrantes de 70, casa de irmãos,

Mais de 20 para um só despertador, uma só sanita,

Um só chuveiro, um só sabonete perfumado de maça.

Um Big Brother que não chegou a ocupar o espaço

Das poucas televisões ligadas á bateria.

 

Um grito sobressai na França tépida dessa noite,

Meses depois da corrida clandestina,

Repousada no cinema, pela primeira vez.

Um cinema real, da ignorância do povo

Fustigado na repressão do saber universal.

Um grito que era uma mosca bebericando

Uma gota de sangue no rosto do homem.

 

Esse homem, hoje, o meu pai.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Razão












Este é o meu olhar sentido

Sobre o que circula à minha volta.

Sou o próprio universo

Pelo ar que respiro,

Pela matéria de carne, ossos e água,

Pelo sangue que me corre na identidade,

Pelo sol que me transforma.

 

Um horizonte que é de todos,

Mas que observo à minha maneira,

Seduzido,

Deixo de ser o mesmo.

Mas este ponto de vista nada vale,

O mundo é vasto, abundante de razões

Próprias de seres estranhos.

 

Perco a minha razão,

Submeto-me à emoção da ilusão efémera?

Elogio a minha diferença,

Essa segurança

De mais uma respiração não forçada,

Autónoma,

Inconsciente,

Um verdadeiro milagre que logro

E provo com prazer,

Ainda que a dúvida permaneça

De que o meu ponto de vista

Não seja a última verdade.

 

Fecha-se a porta lentamente,

Como se tivesse vontade própria,

A luz do exterior tenta entrar no quarto,

Acabando vencida

A luz desaparece,

Fecho os olhos cansados

Que de nada servem neste regresso

 
 
Ao paraíso do sonho.

 

A luz, serena, dona do tempo das coisas continua lá fora,

Deparando-se com a porta,

Esperando-me

Para mais um dia deste amor que sou eu e o convívio

Entre a minha razão e a dos outros.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sorriso


 
Solta-se afinal o sorriso de criança

Que sempre fora

Inolvidável,

Embora quantas vezes reprimido

Em pequenas porções,

Racionado,

Para subsistir ileso até ao verão seguinte.

 

Mas, agora é o sol que ocupa o trono e transforma os campos,

O sol torna-se ele próprio

Nas futuras colheitas,

Nas flores,

Nos frutos suspensos nos braços maternais das árvores,

Nas amendoeiras em flor, majestosas de paz e luz,

Nas laranjeiras e limoeiros misturados

Numa chama

Que envolve as sombras perfumadas.

 

E mesmo se chover

Será um prazer

Para os sentidos,

A melodia das gotas de água

Sopradas pelo vento a cair na natureza,

O corpo encharcado,

O cheiro a terra molhada,

A melancolia apetecida que só vive no cinzento.

 

E mesmo se houver guerra,

Que vai haver,

Haverá espaço

Para compor uma canção de vida e alegria,

Pois será sem rancor

Que carregaremos as espadas de papel

E a armadura

Castanha

Da ferrugem

Desassombrada.

 

E nada

Mudará,

O sorriso inocente

De criança,

Mesmo que amanhã

Seja

Apenas uma lembrança.

 

 
Juan Pérez Gonzalez,

 
02 De Fevereiro de 2013,

 
Vila Nova de Gaia