quarta-feira, 29 de maio de 2013

Branco é a soma de todas as cores


 
 
 
Branco é a soma te todas as cores

Que blindam o meu coração por agora rubro,

Enquanto as minhas lágrimas traduzem

As palavras que secam durante esta luta infernal.

 

Procuro-te com todos os sentidos,

Que me orientam no escuro deste tempo

Que murcha os corpos esbatidos por mais

Uma convulsão de pó nas entre linhas.

 

Este é o preço a pagar pela verdade escondida

Dos silêncios interiores, que se rebatem

Num vinco profundo desta alma dentro da gaiola

De vidro, que me ilude numa fantasia de outros vazios,

Quase moribundos.

 

E descarto mais um desejo de última hora,

Urgente, desta consciência cansada de outras

Lutas. Um desejo de fé num mundo melhor,

Um desejo de acreditar em pelo menos mais uma

Hora de um Deus maior que o meu universo

De carne e sangue e máscaras bonitas.

 

Só mais tarde, me entregarei, resoluto, sábio,

Consciente de que não caminharei mais sozinho,

Partilhando a ajuda da minha mão e da tua, e das vossas.
 
 
Filipe Cunha,
 
29 de Maio de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A tua voz, Ingrid Jonker




Todos os dias uma voz superior a mim

Que me lembra que a justiça não existe,

Todos os dias um coração partido na raça humana

Por outro ser humano,

Todos os dias, a tua voz Ingrid Jonker,

Que me lembra da criança meia preta e meia branca que jaz com uma


bala na cabeça,


Todos os dias a tua voz, que não posso replicar, 

Mas, o teu poema foi lido pelo Mandela,

Outrora preso, agora velho e doente,

Outra vez vítima, agora do cerebelo, que atrofia com a idade,

Enquanto os políticos te comem os ossos,

Que os ratos haviam começado a roer na cadeia

De pedra e aço

Do apartheid que nos continua a envergonhar,

E já outras formas de fascismo corroem a córnea

Da sociedade com ácido sulfúrico.

Faço uma pausa, como o gomo da laranja,

Meio ácido, meio doce, a laranja dos campos do meu país,

Da produção nacional apregoada,

Enquanto, Portugal, os teus filhos auguram dias de fome,

Eu, respiro a verborreia política que me agonia,

Mas as palavras saem invisíveis da minha cabeça,

Uma mente com vida em si própria,

E as paredes deixam de ser brancas,

Com as palavras coladas

Ao ritmo

Da vida

Que habita em mim!


Filipe Cunha,

Vila Nova de Gaia

08 de maio de 2013

domingo, 5 de maio de 2013

Poema à minha mãe






Volto atrás, na saudade que me define

Como homem, tantas vezes um menino

Que regressa à âncora da proteção materna.
 

Por isso voltas a guardar as nuvens cinzentas no teu regaço

Enquanto repouso as angustias que rebentam

Com um estertor ameaçador.
 

E novamente regressa o sorriso da lembrança,

Do teu sangue, que me corre inviolável

Enquanto as têmporas brancas e tímidas

Se vão enrugando com o charme indelével

Da compaixão,património genético

Que me consome e me revolta sempre a favor

Dos mais fracos e oprimidos.
 

Este corpo é o teu ADN replicado

Num homem, ainda menino, cada vez mais

Homem e cada vez mais menino.
 

Estas palavras voam alto, sozinhas, no céu

Da cidade que se perde alvorada fora,

Dias, semanas, até meses. Até se cansarem.
 
 
Filipe Cunha,
Vila Nova de Gaia
 
5 de Maio de 2013