terça-feira, 19 de novembro de 2013

SE CAMINHO NA PERIFERIA DO ABISMO

O calor de um beijo elevou-me à condição De humano. Redondo, suave, perfeito, teu. O nosso beijo que o teu beijo me ensinou. Se me beijas dessa forma preenches o meu Habitat com o delicado agridoce do amor. Vivo, naturalmente, de mãos dadas com o abismo, E o abismo só existe porque tenho medo. Por isso a minha ação é apenas reação. Por isso evito olhar para baixo, olho para a frente E olho para cima, olho para trás e para os lados. Mas nunca olho para baixo. Beijas-me a cara, o algodão das tuas Mãos envolvem com firmeza o meu pescoço, Nesse gesto que me conforta e anima, Enquanto o tempo para e eu me deixo demorar, Para evitar olhar para baixo, persistindo na humanidade. Nunca olhei para baixo, e sem olhar Imagino-o escuro, sem qualquer foco de luz. Conservo o mistério do abismo, Embora caminhe na sua periferia, Com breves Intermitências, como esta em que nos beijamos. E sem querer, quero-te mais. Recuso a espera de quem encontrou Sem procurar. E se parar, vou olhar para baixo E perceber que já morri, o abismo sou eu e já morri. Filipe Ricardo Silva Cunha Vila Nova de Gaia 19 de Novembro de 2013