domingo, 28 de outubro de 2012

As palavras que não visto no escuro














Um nó de palavras mortas à nascença
Na garganta de todos os dias,
Nas cordas vocais edemaciadas do tabaco
Que não apetece. Nunca apetece. Algumas vezes apetece.

Vejo-te nua, descomplexada,
Numa explosão interior
Coordenada à distância
Do que não invocas e odeias.

E o teu olhar finta-me
Como outrora o Paulo Futre
Antes do arranque
Para o golo documentado.

O teu olhar evita-me
Num resto de domínio
Dos sentimentos e emoções a abarrotar,
Desejando a noite de repouso porque amanhã é outro dia
E eu estou cansada,
Desfigurada daquilo que me achava. E afinal, talvez agora
A descoberta de sangue na boca
E epistáxis jorrando do interior
Do coração outrora acelerado,
Mas agora descompassado.

Espero, mais um segundo
Observando em primeira mão
A descoberta de ti,

Perante ti mesma.

Tento falar,
Mas as palavras continuam mortas
Sobre a forma de palavras ou pedras que não conseguem
Fugir de mim!

Se ao menos tivesse
Coragem de atirar com aqueles tomates,
Tomates por pelar
Na manifestação
Da assembleia da tomatina.

Ou pelo menos Vinho do Porto cá em casa,
Ou melhor, vinho da Madeira,
Talvez assim
O nó que me aperta e estrangula se torna-se mais

Doce de esperança.

Juan Perez Gonzalez,
Vila Nova de Gaia,
28 de Outubro de 2012.

1 comentário:

  1. Filipe, as tuas palavras são muito cruas, por isso belas, redondas, acetinadas, inocentes. Continua a escrever poesia, é um registo que te fica bem. Escreves directamente sem subterfúgios, isso é...refrescante. Grandes ideias tenho para o nosso livro.

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