quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Saber dançar em vez de ficar a ver



Gosto de vaguear. Na cidade ou no campo desde que possa percorrer os caminhos, os trilhos ou as ruelas sem qualquer destino mas com toda a tranquilidade e serenidade. A cidade do Porto é um belo exemplo. Gosto de andar libertino pelas ruelas estreitas da velha cidade. Adoro as fachadas velhas e quase ruinosas que lhe conferem um certo ar antigo.
É fácil perder-me entre os aromas vindos das tascas, a prenuncia á “Puerto”, os gritos das crianças ribeirinhas ao saltarem para o Rio Douro do alto da Ponte de Dão Luís, enquanto estrangeiros extasiados batem palmas incrédulas e temerosas. Não gosto de vaguear por entre carros e buzinas de condutores impacientes.
Muitas vezes paro alguns minutos olhando em meu redor tornando-me num figurino da própria paisagem. Parado penso em Nanni Moretti passeando de vespa pelos bairros históricos de Roma. Nanni Moretti dançando alegremente em cima da sua vespa. Dançando com a vespa.  Como seria bela a Roma dos anos 70, como seria bela a cidade do Porto de há 30 anos atrás. Eu e Moretti os dois parvos solitários em busca do belo, enquanto outros se atropelam em centros comerciais domingueiros. O belo diante dos nossos olhos exaltados e fartos.
Continuo a caminhar e a pensar na forma como me fascina a vida quotidiana. A minha vida e a vida dos outros que me envolvem. E sigo o meu monólogo - Moretti porque é que o mínimo raio de luz me interrompe o sono inquieto, porque é que só conseguimos dormir na total escuridão, porque nos Incomóda o ruído e o carro parado nos engarrafamentos da hora de ponta? Porque é que preferimos transportes públicos, cinemas vazios, flores e recortes de jornais guardados nas gavetas?
Moretti faz-me a vontade e responde-me no seu filme “Querido diário”. “ O meu sonho era saber dançar bem em vez de ficar só a ver”. Eu sinto o mesmo. Desde pequeno que a dança exerce sobre mim um encantamento arrebatador. Mas nunca soube dançar. Nunca soube dançar bem. E por isso sempre me limitei a ver dançar. A dança é a doçura e a agilidade. Será por isso que sou mau orador mas bom ouvinte?. Tal como esta cidade de contrastes gosto de ver e ouvir os brilhantes e os fracos, os humanistas e os egoístas. Aprecio a diversidade e aceito ser um caixote do lixo das porcarias vomitadas das bocas sujas de uns como aceito ser um baú de palavras envolvidas em beijos húmidos de um desejo de pureza paz e cooperação. Como gostaria de visitar Roma e Auschwitz ladeado pelo Nanni Moretti. Eu seguiria calado ouvindo Moretti. Aprendendo com o Moretti a magia de se saber observar deduzindo verdades inatingíveis.

Passo horas seguidas na ruas e ruelas da cidade do Porto observando fachadas luxuosas ao lado de ruínas decadentes numa cidade bipolar. Imagino as crianças dos anos 70 a brincar nestas mesmas ruas. Essas crianças também saltavam do alto da ponte Dão Luís para o rio Douro? Não sei, mas provavelmente hoje já só brincam aos domingos á tarde com os netos. Quem me dera saber dançar porque estou cansado de estar parado no meu canto a ver dançar. Vejo sentado na tribuna do teatro da vida o mundo nu a dançar á minha frente mas a música essa já acabou.
 
Juan Perez Gonzalez,
 
18 de Outubro de 2012,
Vila Nova de Gaia

2 comentários:

  1. La música de la vida aún no acabo, suena, suena y suena, escuchas ?, sientelo!, es ese track con ritmo y melodía que te invita a escribir y bailar al mismo tiempo tu propia canción, solo depende de nosotros mismos y de nadie mas dejar de observar y pasar definitivamente a la pista central del baile!! En esa pista central encontraremos personas que nos enseñan, ayudan y perfeccionan nuestro propio estilo de baile, VAMOSSSS CARAJOOO!!!

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