quarta-feira, 14 de novembro de 2012

UM ESQUECER QUALQUER


 
 
 
 
 
 
 
 
Esqueço-me de me esquecer de ti,
A maioria das vezes,
Tal como me havias dito

Que aconteceria.
Naquela noite de lençóis,

E dois corações famintos
Lambendo feridas

De tempos longínquos.
 

Numa bebedeira, de vontades
Acesas, num propósito

De satisfação de um desejo
Poderoso de carne e osso e sangue.

 

Antes disso, os dois sentados no sofá,
Gasto pelas sessões de cinema domingueiro,

Numa envolvência de Yann Tiersen

E do fabuloso destino de Amélie Poulin.
Enquanto lá fora, o frio de outono que mal chegara e já

Começava a estalar os ossos de leite.

 

Também os nossos corações, gelados de terror,
Do silêncio que abunda nesta terra

Deserta do fim do mundo,
Que coberta de geada, anseia pelas pegadas de barulho,

Num contacto que a molde de presença humana.

 
Cumpre-se a tua profecia,
Pouco crente num deus maior,

Para os dois,

Porque somos demasiado grandes
De um nada mortal,

Para o podermos partilhar,
Um com o outro,

E por isso, o rejeitamos,

 
Ainda que não te possa esquecer,

 
Até conhecer outra pessoa.
 
Juan Pérez González,
 
14 de Novembro de 2012,
 
Vila Nova de Gaia.

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