quarta-feira, 8 de maio de 2013

A tua voz, Ingrid Jonker




Todos os dias uma voz superior a mim

Que me lembra que a justiça não existe,

Todos os dias um coração partido na raça humana

Por outro ser humano,

Todos os dias, a tua voz Ingrid Jonker,

Que me lembra da criança meia preta e meia branca que jaz com uma


bala na cabeça,


Todos os dias a tua voz, que não posso replicar, 

Mas, o teu poema foi lido pelo Mandela,

Outrora preso, agora velho e doente,

Outra vez vítima, agora do cerebelo, que atrofia com a idade,

Enquanto os políticos te comem os ossos,

Que os ratos haviam começado a roer na cadeia

De pedra e aço

Do apartheid que nos continua a envergonhar,

E já outras formas de fascismo corroem a córnea

Da sociedade com ácido sulfúrico.

Faço uma pausa, como o gomo da laranja,

Meio ácido, meio doce, a laranja dos campos do meu país,

Da produção nacional apregoada,

Enquanto, Portugal, os teus filhos auguram dias de fome,

Eu, respiro a verborreia política que me agonia,

Mas as palavras saem invisíveis da minha cabeça,

Uma mente com vida em si própria,

E as paredes deixam de ser brancas,

Com as palavras coladas

Ao ritmo

Da vida

Que habita em mim!


Filipe Cunha,

Vila Nova de Gaia

08 de maio de 2013

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